domingo, 23 de janeiro de 2011

O Conte Grande


 (O Conte Grande no porto de Santos em 1941 em foto do arquivo de Rossini)


OS ITALIANOS DO HOTEL QUITANDINHA:

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, professor e pesquisador de História graduado pela UCP e pós-graduado pela UCAM em História do Século XX

Depoimentos do Sr. Orlando Klôh, ex-garçon do Hotel Quitandinha, e observamos que a riqueza deste depoimento não residia somente no que fora exposto, mas principalmente no que vivenciara profissionalmente. "Seu" Orlando, na mesma época em seus depoimentos, assinalara o fato de que Rola iniciara seus projetos adquirindo o histórico e famoso, "Tênis Clube de Petrópolis" (atual Petropolitano F.C) em 1941 e que o transformara em cassino, para tanto obras na fachada do clube (portal) foram desenvolvidas com o objetivo de prover uma entrada de maior requinte já que a maior parte do clube apresentava uma paisagem "campestre". O próprio Orlando trabalhou nas obras sendo depois convidado para trabalhar no interior do cassino. Quando terminou as obras do Hotel Cassino Quitandinha, os funcionários do Tênis Clube foram transferidos, mas eram poucos para o movimento e espaço considerado, o próprio Orlando passou a auxiliar no som e iluminação da Boite, onde apresentavam-se os famosos shows nacionais e internacionais, assim como bailes, passando posteriormente para o corpo de garçons. Mas Seu Orlando conta que Rolla viajou para Santos com o objetivo de contratar os tripulantes do transatlântico Conte Grande para solucionar com um grande naipe de profissionais os problemas do Cassino. Dezenas destes funcionários super-capacitados no período entre - guerras pelas escolas mais eficientes de hotelaria da Europa transferiram-se para Petrópolis onde muitos e suas famílias até hoje estão estabelecidos e incorporados ao cotidiano social do Petropolitano. Assim é que devemos destacar um pouco da história desta embarcação cujo destino relacionou-se com o de nossa sociedade.


 (foto da "brigada da boite" e de seus italianos, arquivo de Orlando Klôh)

A história do Conte Grande deve ser ressaltada do que foi escrito por José Carlos Rossini, jornalista da Tribuna de Santos em 1992. O Conte Grande, foi construído na Itália em 1928, e ficou retido em Santos em 1941, assim como o transatlântico alemão Windhunk. Quando Hitler invadiu a Polônia em 1939, o comandante do Windhuck, que era o mais moderno transatlântico germânico na época, resolveu interromper o cruzeiro que a embarcação fazia pelos mares e litorais da África, passando a refugiar-se na América do Sul, fugindo principalmente dos navios de guerra e do racionamento de combustível que impedia as embarcações de cruzeiro de viajarem tranqüilas. Já o Conte Grande, com exceção de um par de viagens, em 1935, entre Trieste e Nova Iorque, permaneceu na rota sul-americana, não interrompendo seus serviços.

Na época, o Conte Grande possuía 486 eram tripulantes, enquanto encontrava-se atracado no porto de Santos, onde, a Italmar empresa proprietária, providenciou o encaminhamento dos passageiros que se viram atropelados pela guerra. Segundo Rossini, o adido naval italiano no Rio de Janeiro na época, Torriani, passou a ser o responsável pelo grande transatlântico. O futuro era incerto para a grande maioria dos tripulantes do Conte Grande assim que logo desceram em terra firme, alguns foram acomodados em pensões e hotéis de Santos e São Vicente, enquanto um menor número foi levado para São Paulo e interior do Estado. Enquanto isto, a presença do Conte Grande em Santos, entre junho de 1940 e abril de 1942, marcou o cotidiano da cidade. Seus tripulantes desembarcados, sobretudo dos homens de copa e cozinha (garçons, cozinheiros, copeiros, camareiros) que foram albergados, bem e mal, por aqui e por ali, foram encontrando trabalho em bares e restaurantes da cidade, enquanto outros vivendo no ócio e sendo sustentados por uma magra contribuição financeira do Consulado Italiano. Rossini continua sua descrição: no Hotel Parque Balneário, no Gonzaga, foram tocar os músicos da orquestra de bordo, e o cozinheiro-chefe do Conte Grande, contratado pelo então proprietário, o senhor Fracarolli, foi enriquecer o cardápio à l'italiana do prestigioso hotel. Outros membros da tripulação de serviço encontraram emprego em hotéis e restaurantes de Santos, São Paulo e até do Rio de Janeiro. Entre esses, um cozinheiro-auxiliar e dois garçons foram parar no Restaurante Bologna da Ponte Pênsil em São Vicente, e vários garçons, barmen e cozinheiros foram para o Hotel Quitandinha, do Rio de Janeiro.

 (O restaurante do Conte-Grande e seus tripulantes em serviço, arquivo de Rossini)


Quanto ao Windhuck, Em 1942, quando o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, toda a tripulação foi presa e conduzida para campos de concentração no interior de São Paulo e lá ficaram presos até o fim da guerra em 1945.




O MUNICÍPIO DO PR COM O NOME QUITANDINHA



A importância do Quitandinha historicamente não se prendeu somente aos eventos nacionais e internacionais de porte na história como a Conferência do Rio de Janeiro. Nem somente aos eventos sociais como bailes, desfiles de misses, carnavais e outros que já descrevemos neste blog. Quitandinha também tornou-se nome de município no Paraná. Leia histórico abaixo:

O MUNICÍPIO E O SEU NOME

Foi fundada a paróquia do Senhor Bom Jesus, de Areia Branca, cujo território abrangia partes de quatro municípios: distrito de Areia Branca, no município de Contenda; distrito de Pangaré, no município de Rio Negro; localidade de São João Caíva, no município da Lapa; localidade de Caí de Baixo, no município de São José dos Pinhais. Em janeiro de 1961 assumiu a paróquia, como vigário titular, o padre Miguel José Mickosz, o qual, considerando a dificuldade para desenvolver um trabalho de catequese e evangelização dos paroquianos num território assim dividido, tratou logo de propor a criação de um município que abrangesse todo o território da paróquia. Padre Miguel recorreu aos préstimos de um amigo, que era na época deputado estadual, Dr. Antonio Ferreira Rüppel, o qual apresentou na Assembléia legislativa do estado, o Projeto de Lei n° 37/61. Essa lei foi aprovada pela Assembléia e encaminhada ao então governador Ney Braga para sanção. Ney Braga, que tinha conhecimento de um grupo de correligionários seus, que eram contra a criação do novo município, devolveu o projeto de lei para a Assembléia, tendo o deputado Vidal Vagnone, Presidente do Legislativo, promulgado a lei em 14 de junho de 1961.

Na década de 50, o Sr. Reinaldo Paolini, em viagem ao Rio de Janeiro, hospedou-se com sua esposa no Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Nessa época, estava sendo construída a rodovia BR 116, e o Sr. Reinaldo Paolini construiu à beira dessa estrada, um bar e churrascaria ao qual deu o nome de Quitandinha. Por ocasião do ato de criação do município, almoçavam na churrascaria o padre, o deputado e outros políticos, quando o Sr. Reinaldo Paolini propôs que desse ao novo município o nome de sua churrascaria, o que foi aprovado, surgindo daí o nome Quitandinha.

(in, http://www.quitandinha.pr.gov.br/history_municipio.asp)



TRANSPORTE URBANO EM PETRÓPOLIS NOS ANOS 50/60




Linha 3 - Quitandinha - Viação Imperial - Início: Rua Paulo Barbosa - final alto do Quitandinha - passagem direta: Cr$ 4,00 - 39 viagens diárias de ida e volta.




INTER-BAIRROS: UMA REVOLUÇÃO PETROPOLITANA NOS TRANSPORTES



O decreto-municipal de ligação Inter Bairros de Transportes, significou uma verdadeira revolução nos transportes Petropolitanos. Os empresários de cada região da cidade comprometiam-se a fazer um número relativo de viagens entre os bairros Petropolitanos procurando aliviar o ônus existente entre os trabalhadores que precisavam pagar várias passagens para chegar ao destino casa-trabalho.

O mais efetivo foi o da ligação Quitandinha-loteamento Samambaia que passava pelo Alto da Serra, Cascatinha entre outros. Servido tanto pelas Hortênsias como pela Petro-Ita. O sistema foi substituído pelas estações de transbordo.

Construção do Hotel Quitandinha I


(foto tirada de um monte próximo onde havia uma pedreira e iniciou-se o processo de ocupação imobiliária das proximidades do Hotel. A mesma foto apresenta ainda o hotel em suas etapas finais de construção)

(também do monte próximo onde pode-se observar a parte traseira)

(outra etapa da construção)

(A construção em seus primeiros movimentos, o "esqueleto")



(Trabalhadores em movimento nestas obras)

 (Uma foto aérea do Hotel Cassino Quitandinha em 1944, uma raridade de época) 


(foto da etapa final de construção do Hotel Cassino Quitandinha, os salões e diversos halls ainda em construção reproduzida nos jornais Petropolitanos em 1944 e pertencente á coleção de J.K.Fróes Arquivada no Museu Imperial)

A Casa Francesa, que era nome de fantasia de uma tradicional empresa cujo registro oficial levava a razão com o nome de seus fundadores, Isnard & Moraes Ltda., e cuja sede estava presente na Rua da Consolação, no. 50. A Francesa desenvolveu seus serviços pelos principais prédios do Rio de Janeiro no período, que eram principalmente os de decorações em gesso e cimento para interiores e fachadas de prédios, além de adequação de ladrilhos hidráulicos e revestimentos em granilite e fulgêt, ambos de última geração para a época.

A partir dos anos 40, as informações que se apresentam é a de que a razão social de Casa Francesa passa a ser Pedralit Revestimentos Ltda. Já em 1978, nova alteração na razão social conduz a Elepar Material para Construção Ltda e Graniform Ltda, que deram continuidade a tradicional marca Casa Francesa.

Quanto a OTIS é uma tradicional firma americana com 150 anos de existência, na fabricação de elevadores, escadas rolantes e demais equipamentos, e com um século em funcionamento no Brasil. Em sua história, observamos que a OTIS atuou no Brasil primeiramente no Palácio Laranjeiras, atualmente a residência oficial do governador do Rio de Janeiro, foi á primeira edificação brasileira a receber um elevador elétrico da Otis no pais isto no ano de 1906. O maquinário funciona até os dias de hoje e, com a manutenção a cargo da própria Otis, conserva suas características originais. Inicialmente, a empresa atuou no País com a importação de componentes, abrindo, em 1926, seu primeiro escritório de vendas no Rio de Janeiro. A primeira fábrica, também no Rio, seria construída em 1934. Desde 1991, a Otis encontra-se instalada em São Bernardo do Campo, SP.


O projeto do Hotel Cassino Quitandinha foi de Luiz Fossati. Do escritório no Rio, surgiu muito antes outro projeto do Arquiteto Luiz Fossati em 1939 que atraiu as atenções na época, tido por Rouen, pesquisador carioca, como um dos mais belos prédios Art-Déco que tivemos, o Cassino Hotel Balneário Icarahy. " Suas formas nitidamente de época lembram os traços do Cinema Olinda, do Cine Ipanema, do teatro e da rodoviária de Goiânia, e alguns outros prédios Art-Déco que foram demolidos no país." Outra realização do arquiteto Luiz Fossati nesta região nos anos 1936-37 foi á construção do famoso Trampolim da Praia de Icaraí,sob encomenda do Clube de Regatas Icaraí, em concreto armado, localizado em frente à Rua Lopes Trovão. O trampolim foi ao final dos anos 60 dinamitado por oferecer imenso perigo e risco aos banhistas. 

(in, Rouen in http://fotolog.terra.com.br/bfg1:445)



(neste detalhe da foto observamos a finalização das obras da parte térrea do Hotel, de sua recepção e salões).


(neste outro detalhe observamos a publicidade das empresas na fachada do Hotel)

(outro detalhe da finalização das obras)

(neste outro detalhe observamos em detalhe a publicidade do construtor, do projetista e da OTIS)

(escada que sobe para a torre que integra o complexo do prédio)
(o segmento traseiro do prédio em acabamento final, assim como a torre)

Construção do Hotel Quitandinha II






Um detalhe que para muitos pesquisadores seria improcedente de haver existido. Mas o mesmo foi real, o de um projeto de autoria de Oscar Niemeyer, produzido a pedido de Rolla, para um prédio-condomínio, que comportaria 5.700 apartamentos (em 1950). O famoso "Condomínio Mauá", que seria construído ladeando o Quitandinha Palace.

O mesmo projeto chegou a ter unidades vendidas por seu construtor, Joaquim Rolla, porém o empreendimento não se realizou em Petrópolis, e foi construído em menor escala no formato de Condomínio, o Edifício JK, em Belo Horizonte, também um projeto de Niemeyer.

O Mega projeto não seria adequado às condições ambientais da região, e na época em que foi projetado, o Quitandinha perdera sua magnitude, sendo então o condomínio mais um dos empreendimentos imobiliários de especulação na região serrana na era de seu pseudo-modernismo.

  (observe atentamente a desproporcionalidade deste mega-projeto comparado com o Quitandinha que é ladeado pelo mesmo)




Para as obras artesanais, inúmeros artistas foram contratados no exterior, até mesmo asiáticos.
No seu auge, o Quitandinha chegou a empregar 1.500 pessoas e abrigou em seus salões os figurões da República, artistas de renome nacional e internacional e a nata da elite nacional. Por sua "boite"  se apresentaram artistas como Grande Otelo, Oscarito, Emilinha Borba, Marlene e a vedete Virgínia Lane. Passaram também por seus salões estrelas do porte de Errol Flynn, Orson Welles, Lana  Turner e Henry Fonda. E políticos como Getúlio Vargas e Evita Perón.



Nas suas dependências ocorreu a assinatura da declaração de guerra dos países americanos ao eixo (história), durante a Segunda Guerra Mundial, a Conferência Interamericana de 1947. Realizou-se também, em 1957, a 16ª Conferência Mundial de Bandeirantes, que contou com representantes de 23 países Associados à WAGGGS (Word Association of Girl Guides and Girl Scouts), a assinatura do Tratado do Rio de Janeiro, entre outros inúmeros eventos nacionais e internacionais.

Nos anos de 1954 à 1957 ocorreram os famosos concursos de Miss Brasil com a concorrência de inúmeros empresários relacionados à esta festa que tornava-se importante pelo evento internacional que se realizava logo a seguir, um charme para a época.

Joaquim Rolla, o empresário que construiu o Quitandinha era muito bem relacionado no governo e, com isso conseguiu proteger-se da proibição do jogo. Amigo de Amaral Peixoto, o interventor do Rio de Janeiro que era genro do Presidente Getúlio Vargas, Joaquim Rolla negociou com o governo um contrato que lhe garantia uma indenização de 120 mil contos de réis, na eventualidade do jogo ser proibido em território nacional, o que, de fato, viria a acontecer dois anos depois da noite de 12 de fevereiro de 1944 (inauguração). Mais precisamente por um decreto assinado por Dutra em 30 de maio de 1946.

Não conseguindo sobreviver só como hotel de luxo, os apartamentos foram vendidos a partir de 1963. O conjunto em janeiro de 1989, foi totalmente restaurado, aguardando-se a abertura dos jogos no Brasil.

Quando o Cassino foi inaugurado ocorreu um banquete para duas mil pessoas, no salão Marcondes. Conversíveis, “rabos de peixe”, limusines chegavam com grande movimento. Os ônibus especiais da UTIL e da ÚNICA faziam fila em sua entrada, além de “carros de praça ou aluguel”.
Além do banquete havia ainda o show Vogue 44, com Grande Otelo, Yma Sumac, Alvarenga e Ranchinho. Duas orquestras, de Carlos Machado e do maestro Gaó, tocariam durante o jantar e o baile. Devido à grande quantidade de convidados, o jantar começou a ser servido às 23h30 e o show às 2h15 da manhã, quando pouca gente podia assisti-lo não só por causa do atraso, mas também pela grande quantidade de bebida ingerida.

O Sr. Orlando Klôh tem razão, bons tempos! (Garson do Hotel)

Mas não devemos nos esquecer que a construção do Hotel acelerou também a descaracterização do sitio histórico Petropolitano invadido pela construção de inúmeros “espigões” em nome do “progresso e do modernismo”. Uma “falsa alavanca” desenvolvimentista em uma cidade histórica.



Já a construção ficara a cargo de Alcebíades Monteiro Júnior, ou Monteiro Filho (foto), que nasceu em Lisboa (Portugal) 1909 e chegou ao Brasil com 11 anos de idade, em 1920.

Monteiro fora companheiro de estudo no Liceu de Artes e Ofícios de nomes como Cândido Portinari, Manoel Faria, Rui Campelo (pintores), Calmon Barreto (gravador), e Antonio Nássara (arquiteto). E além de construtor fora principalmente desenhista e chargista-caricaturista de famosas revistas cariocas como Para Todos, O Malho, Tico-Tico. Organizara desfiles para o Clube dos Fenianos, sociedade carnavalesca carioca de grandes carros em 32. E após a construção do Quitandinha, veio morar em Petrópolis e ficou responsável pela construção do edifício Minas Gerais, sede do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais; do edifício Imperador e  na década de 1950 encerrou suas atividade em cenários de filmes da Cinédia.


 (cúpula em construção)

Quanto ao Quitandinha, são cinqüenta mil metros quadrados e seis andares; salões com dez metros de altura; quatrocentos e quarenta apartamentos; treze grandes salões. Um destes salões, o Mauá, reservado ao cassino, impressiona como obra de engenharia por possuir uma cúpula com trinta metros de altura e cinqüenta diâmetro, sendo a segunda maior cúpula do mundo, comparada a redoma da Catedral de São Pedro em Roma. Tamanha dimensão impressiona ainda mais quando nos fazemos presentes neste salão, mais precisamente em um ponto definido onde sua voz pode ecoar por até quatorze vezes pelo salão. Bem à frente do palácio estendem-se um lago com 18 mil metros quadrados.

(obras de construção do lago)

CONGRESSO DE ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS



 Após o encerramento e proibição dos jogos no país, Joaquim Rolla dedicou-se a centralizar as operações de Congressos internacionais e nacionais no Hotel Quitandinha, funcionando como marketing de promoção do mesmo Hotel no cenário nacional e internacional, já que contava com surpreendente projeto de um hotel internacional que hoje seria considerado 6 estrelas. As fotos presentes retratam a realização do IV Congresso das Associações Comerciais do Estado do Rio de Janeiro, com a presença de autoridades estaduais e municipais, e com mais de 30 delegados. Reunião de grande importância para os destinos da economia fluminense realizou-se em 1948 no Hotel Quitandinha. A associação Petropolitana na época foi bem representada no Congresso.

(extraído da revista Vida Serrana, Silvio de Carvalho, p.28/29, 1948)


Presidindo a inauguração dos trabalhos encontrava-se presente, Edmundo de Macedo Soares e Silva, que governou o estado de 1947 até o ano de 1951 dando início a um programa de incentivo às cooperativas agrícolas e também ao desenvolvimento das indústrias de base (cimento, siderurgia, etc.) por todo o território fluminense.

Histórico autor do projeto apresentado ao Conselho Técnico de Economia e Finanças no ano de 1938, que propunha a utilização de um capital misto (nacional e estrangeiro) para a construção de uma usina siderúrgica de grande porte no país, surgiram as bases para a implantação, a partir de 1941, da Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, no então Volta Redonda no município de Barra Mansa, no sul do estado do Rio de Janeiro.

Conferência Latino-Americana de Nutrição.


 (A Conferência realizada no Hotel Quitandinha com personalidades internacionais)




TRIBUNA DE PETRÓPOLIS - 6 de junho - 1950 Instalou-se, ontem, as 11hs, no Hotel Quitandinha, a Segunda Conferência Latino-Americana de Nutrição. O ato inaugural contou com a presença de destacadas figuras do governo federal além de representantes dos diversos países do hemisfério.
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O ano de 1950 foi para Petrópolis de destaque no cenário internacional pela realização de Congressos e Conferências. Porém a Conferência citada pela Tribuna em sua retrospectiva possuiu grande influência no cenário internacional, pois seu organizador o médico, professor e cientista, Josué de Castro, autor do célebre Geografia da Fome (1946) torna-se uma referência internacional. Por seu brilhantismo intelectual conquistando admiradores por todos os continentes.
Josué já participara, como delegado do Brasil, em 1948, da Primeira Conferência Latino-Americana de Nutrição, em Montevidéu, promovida pela FAO, Órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Na ocasião foi escolhido como membro do Comitê Consultivo Permanente de Nutrição deste órgão. Em 1950, Josué organiza esta Segunda Conferência Latino-Americana de Nutrição da FAO em Petrópolis, no Hotel Quitandinha. Josué foi eleito como primeiro Presidente do Conselho Executivo da FAO Fundo para a alimentação e agricultura da ONU, sediado em Roma, ocupando este cargo por dois mandatos sucessivos, de 1952 a 1956. Foi duas vezes indicado para o Prêmio Nobel da Paz e morto em 1973, quando vivia exilado em Paris, tendo sido cassado pelo governo militar. Em suas obras afirmava, com evidências extraídas de várias áreas do conhecimento, como Biologia, História e Economia, que a fome no Brasil é questão de distribuição de renda, não de produção de alimentos. Há mais de 50 anos apontava como regiões de fome endêmica (permanente) o Norte e o Nordeste.

 (Josué em sua mesa de trabalho na FAO)

Conferência IMPSC 1947


Postal com foto do Quitandinha com selos e carimbo oficial comemorativo da realização da Conferência Interamericana de Manutenção da Paz e da Segurança do Continente de 1947.


Menu do almoço e do jantar da Conferência

Rádio Quitandinha





Nos anos 40 foi criada em Petrópolis a Rádio Quitandinha, procurando rivalizar com a Rádio Difusora criada em 1934 e pioneira no Estado do Rio. No decorrer dos anos 60 ela trocou o nome para Rádio Imperial e iniciou um processo de revolução na área radiofônica na região serrana. Muitos de seus locutores e apresentadores foram trabalhar mais tarde na rádio Tupi, Globo e outras. Petrópolis transformou-se em uma rádio-escola formando especialistas para o universo radiofônico nacional. Nos anos 70 a Rádio Imperial procurava promover diversos shows na Praça Paulo Carneiro para o povo Petropolitano e fazia desfilar inúmeros cantores da jovem guarda, tais como Roberto Carlos (O Rei), Erasmo Carlos (O Tremendão) e Wanderléa (A Ternurinha), Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Eduardo Araújo, Martinha, Ed Wilson, Waldirene (A Garota do Roberto), Leno & Lílian, Deny e Dino, Bobby Di Carlo e grupos como Golden Boys, Renato & Seus Blue Caps, Os incríveis e etc. 


Na foto observamos a visita da cantora e compositora Elizabet aos estúdios a Rádio Imperial. Elisabeth cantava a música "Sou Louco Por Você", grande sucesso dos anos 70. Na foto se fazia acompanhar por Paulo Giovani entre outros nomes da época.

O CASSINO: ROLLA E O MOVIMENTO FINANCEIRO





Jean Manzon foi um fotógrafo francês radicano no Brasil que segundo os especialistas inovou o fotojornaliso brasileiro. Após trabalhos nas mais importantes revistas francesas transferiu-se para o Brasil fugindo da Segunda Grande Guerra. Foi o fotografo preferido de Vargas e trabalhou na famosa revista brasileira do período, "O Cruzeiro" fazendo parceria com David Nasser, polêmico jornalista. Em uma de suas reportagens ilustradas por Manzon, expõs o lado milionário de Joaquim Rolla e as arrecadações realizadas pelo Cassino. A foto reproduzida da Revista O Cruzeiro e autoria de Manzon (1943) apresenta o movimento financeiro do Cassino Quitandinha, uma demonstração de parte do império de Rolla. Podemos agora compreender como o Banco de Minas Gerais constroí um edificio para sua sede em Petrópolis, com um imenso cofre externo que até uma década passada era a marca registrada na fachada das Lojas Americanas em Petrópolis, e que recebia com privilégio os depósitos de Joaquim Rolla, um tradicional mineiro.




Segmento reproduzido da foto de R. Haack, pertencente à coleção do Museu Imperial e destacando a filial do banco mineiro em Petrópolis criado com a autorização de Vargas e o aval de Rolla.

O GASOGÊNIO: UM DOCUMENTO DE ÉPOCA



É possivelmente copiada da revista O Cruzeiro, revista de sucesso nacional na época,  apresenta diversos carros de praça à saída do Hotel Cassino Quitandinha na época. Mais precisamente o ano de 1941, ano da foto, quando vigora o racionamento de gasolina, resultado do conflito mundial (a Segunda Guerra), que foi imposto pelo governo brasileiro obrigando os motoristas do período a converterem seus carros para uso do gasogênio, um gás que era obtido por meio da queima de carvão. Para ser usado, o gasogênio requeria um equipamento acoplado na traseira dos veículos. O motor adaptado para gasogênio funcionava com os gases (nitrogênio, hidrogênio, monóxido de carbono, metano) obtidos pela queima do carvão ou da lenha. A característica principal é a de que o sistema não era vantajoso para percursos curtos, sem contar que a instalação modificava a dirigibilidade do automóvel em virtude do peso final. Podemos observar na foto a presença de ao menos dois veículos transformados para este fim, além do fato de que a mesma foto poder ser um documento de época do expert, do fotojornalismo Jean Manzon, se realmente for uma publicação de O CRUZEIRO.




Sobre Dorothy Draper



Foto da revista House Beautiful.

Esta é uma imagem dos anos 40 do Quitandinha, foto clássica que "corre" os livros sobre decoração nos Estados Unidos que fazem apologia ou citam componentes da biografia de Dorothy Draper. Nascida em uma família abastada e privilegiada, em 1889, mais precisamente em uma das comunidades mais elitistas da história dos EUA, o Tuxedo Park. Foi a primeira a se profissionalizar no design de interiores da comunidade industrial norte-americana destacando-se por intermédio de seu profissionalismo nesta arte e por sua  criatividade. Em 1923, foi a primeira mulher a cuidar do design nos Estados Unidos, algo que até então era inédito, e também a certa altura por sua participação em diversos projetos sendo considerada ousada em sua profissão. Uma mulher que entrou definitivamente, não somente para a arte do designer, mas também para os negócios relacionados ao mesmo. Carleton Varney escreveu em biografia, o "Draper Touch", que ela revolucionou o conceito de design pela ruptura com o histórico processo do século XIX desenvolvido por homens, e com a diversidade de estilos que dominaram seus trabalhos o que a diferenciava de seus antecessores profissionais e de seus contemporâneos. Como artista, era moderna, sendo uma das primeiras decoradoras do sexo   feminino das Américas, pioneira. Segundo seus biógrafos, inventou o "Barroco Moderno", estilo particular que repercutia pelos grandes espaços públicos e pela arquitetura moderna. 

Dorothy elaborou ornamentos de desenhos e molduras de gesso sobre portas, em paredes e tetos de prédios como o do Quitandinha, o que promovia um forte destaque, se sobressaíam. Ainda postava o xadrez preto e branco pelos pisos dos andares como um jogo, o que caracterizava o ambiente que acompanhava o cassino, objetivo final da obra. Em outras áreas o piso apresentava detalhes tropicais ou dos componentes do baralho estilizado.





Esta é a foto de Dorothy Draper em 1937. Famosa decoradora novaiorquina, inovadora, a quem a industria norte-americana de construção muito deve por seu estilo modernista que influenciou inumeros decoradores e arquitetos. Seus projetos e trabalhos desenvolvidos nos anos 50, 60 e 70, foram expostos em uma exposição em 2006 em Nova York. Ela e sua equipe aceitaram a incumbência de decorar todo o interior do Hotel Cassino Quitandinha em Petrópolis em 1940. a convite de Rolla. O estilo hollywodiano foi o encontrado para marcar o ambiente que receberia personalidades e clientes de todo o mundo.


SEDE DO CONGRESSO INTER-AMERICANO






Como não poderia deixar de ser, mais uma vez as fotos do Quitandinha se apresentam com novidades, além das que já publicamos. E aproveitamos para informar que em 1947 instalou-se no Hotel Cassino, a Conferência Inter-Americana para Manutenção da Paz e Segurança do Continente. Os trabalhos ocorreram entre 15 de agosto  2 de setembro, e elegeram presidente efetivo da importante reunião Raul Fernandes, então Ministro do Exterior do Brasil, que substituíra Oswaldo Aranha nos destinos da nossa política externa.