(O Conte Grande no porto de Santos em 1941 em foto do arquivo de Rossini)
OS ITALIANOS DO HOTEL QUITANDINHA:
Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, professor e pesquisador de História graduado pela UCP e pós-graduado pela UCAM em História do Século XX
Depoimentos do Sr. Orlando Klôh, ex-garçon do Hotel Quitandinha, e observamos que a riqueza deste depoimento não residia somente no que fora exposto, mas principalmente no que vivenciara profissionalmente. "Seu" Orlando, na mesma época em seus depoimentos, assinalara o fato de que Rola iniciara seus projetos adquirindo o histórico e famoso, "Tênis Clube de Petrópolis" (atual Petropolitano F.C) em 1941 e que o transformara em cassino, para tanto obras na fachada do clube (portal) foram desenvolvidas com o objetivo de prover uma entrada de maior requinte já que a maior parte do clube apresentava uma paisagem "campestre". O próprio Orlando trabalhou nas obras sendo depois convidado para trabalhar no interior do cassino. Quando terminou as obras do Hotel Cassino Quitandinha, os funcionários do Tênis Clube foram transferidos, mas eram poucos para o movimento e espaço considerado, o próprio Orlando passou a auxiliar no som e iluminação da Boite, onde apresentavam-se os famosos shows nacionais e internacionais, assim como bailes, passando posteriormente para o corpo de garçons. Mas Seu Orlando conta que Rolla viajou para Santos com o objetivo de contratar os tripulantes do transatlântico Conte Grande para solucionar com um grande naipe de profissionais os problemas do Cassino. Dezenas destes funcionários super-capacitados no período entre - guerras pelas escolas mais eficientes de hotelaria da Europa transferiram-se para Petrópolis onde muitos e suas famílias até hoje estão estabelecidos e incorporados ao cotidiano social do Petropolitano. Assim é que devemos destacar um pouco da história desta embarcação cujo destino relacionou-se com o de nossa sociedade.
(foto da "brigada da boite" e de seus italianos, arquivo de Orlando Klôh)
A história do Conte Grande deve ser ressaltada do que foi escrito por José Carlos Rossini, jornalista da Tribuna de Santos em 1992. O Conte Grande, foi construído na Itália em 1928, e ficou retido em Santos em 1941, assim como o transatlântico alemão Windhunk. Quando Hitler invadiu a Polônia em 1939, o comandante do Windhuck, que era o mais moderno transatlântico germânico na época, resolveu interromper o cruzeiro que a embarcação fazia pelos mares e litorais da África, passando a refugiar-se na América do Sul, fugindo principalmente dos navios de guerra e do racionamento de combustível que impedia as embarcações de cruzeiro de viajarem tranqüilas. Já o Conte Grande, com exceção de um par de viagens, em 1935, entre Trieste e Nova Iorque, permaneceu na rota sul-americana, não interrompendo seus serviços.
Na época, o Conte Grande possuía 486 eram tripulantes, enquanto encontrava-se atracado no porto de Santos, onde, a Italmar empresa proprietária, providenciou o encaminhamento dos passageiros que se viram atropelados pela guerra. Segundo Rossini, o adido naval italiano no Rio de Janeiro na época, Torriani, passou a ser o responsável pelo grande transatlântico. O futuro era incerto para a grande maioria dos tripulantes do Conte Grande assim que logo desceram em terra firme, alguns foram acomodados em pensões e hotéis de Santos e São Vicente, enquanto um menor número foi levado para São Paulo e interior do Estado. Enquanto isto, a presença do Conte Grande em Santos, entre junho de 1940 e abril de 1942, marcou o cotidiano da cidade. Seus tripulantes desembarcados, sobretudo dos homens de copa e cozinha (garçons, cozinheiros, copeiros, camareiros) que foram albergados, bem e mal, por aqui e por ali, foram encontrando trabalho em bares e restaurantes da cidade, enquanto outros vivendo no ócio e sendo sustentados por uma magra contribuição financeira do Consulado Italiano. Rossini continua sua descrição: no Hotel Parque Balneário, no Gonzaga, foram tocar os músicos da orquestra de bordo, e o cozinheiro-chefe do Conte Grande, contratado pelo então proprietário, o senhor Fracarolli, foi enriquecer o cardápio à l'italiana do prestigioso hotel. Outros membros da tripulação de serviço encontraram emprego em hotéis e restaurantes de Santos, São Paulo e até do Rio de Janeiro. Entre esses, um cozinheiro-auxiliar e dois garçons foram parar no Restaurante Bologna da Ponte Pênsil em São Vicente, e vários garçons, barmen e cozinheiros foram para o Hotel Quitandinha, do Rio de Janeiro.
(O restaurante do Conte-Grande e seus tripulantes em serviço, arquivo de Rossini)
Quanto ao Windhuck, Em 1942, quando o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, toda a tripulação foi presa e conduzida para campos de concentração no interior de São Paulo e lá ficaram presos até o fim da guerra em 1945.